Os resultados do Censo Demográfico 2010 mostram o crescimento da
diversidade dos grupos religiosos no Brasil. O crescimento da população
evangélica, que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010, foi um dos
destaques do cenário religioso. A pesquisa indica também o aumento dos
que se declararam sem religião, que chegam a 8%, ou 14 milhões de
pessoas.
O fato curioso foi que número de evangélicos que não mantêm
vínculo com nenhuma igreja cresceu. Segundo o IBGE, passaram de 4% do
total de evangélicos em 2003 para 14% em 2009, somando agora 5,4 milhões
de pessoas. Parece que vivemos dias quando o velho ditado “Cristo, sim,
Igreja não”, embora uma contradição de termos, volta a ganhar
popularidade. A palavra grega “ekklesia”, traduzida como “igreja”,
aparece 114 vezes no Novo Testamento. Destas, 5 vezes indicam o que
alguns teólogos chamam de “igreja universal”, o corpo de Cristo que
reúne todo o povo de Deus na história, desde Abraão aos nossos dias; 95
vezes fazem referência à igreja local (que está em
Corinto, na casa de
Áquila e Priscila, por exemplo); outras 9 vezes, em Efésios, que podem
referir os dois sentidos, tanto universal quanto local; eoutras 5 vezes
sem qualquer sentido religioso. Isso significa que as referências do
Novo Testamento à igreja,é quase totalmente no sentido de uma comunidade
cristã localizada no tempo e no espaço, a comunhão histórica de
cristãos de determinada região. Isso faz sentido, pois o exercício de
viver em comunidade se constitui não apenas um dos maiores desafios para
todas as gerações de cristãos, como também e principalmente indica a
essência do propósito de deus revelado em Jesus Cristo.
Podemos
construir a compreesnão do significado e revelevância da expressão
“igreja: ser e pertencer” a partir de seis eventos narrados na Bíblia: a
criação do homem, a Torre de Babel, o chamado de Abraão, o advento de
Jesus Cristo, o Pentecoste, e a visão do louvor ao Cordeiro no
Apocalipse. Quando Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, os
criou macho e fêmea destinados a expressar o relacionamento da
Santíssima Trindade, isto é, a viverem uma “unidade plural”, pois são
três as pessoas, mas um único Deus. Adão considera Eva uma expressão de
si mesmo: “osso dos meus ossos e carne da minha carne”, sendo, na
verdade, duas as pessoas, mas uma só carne (Gênesis 1.26,27; 2.18-25). A
história da Torre de Babel registra o surgimento das nações – antes, um
só povo com uma só língua, isto é, uma unidade plural, agora, muitas
etnias, espalhadas por toda a terra (Gênesis 11.1-9). Mas Deus continua a
insistir no seu propósito eterno para a raça humana, a saber, criar
para si mesmo uma outra “unidade plural”, expressão de sua imageme e
semelhança, com quem repartir sua comunhão de amor. Essa é a razão
porque chama Abraão, com a promessa de fazer de sua descendência uma só
nação, para sejam abençoadas todas a famílias da terra (Gênsis 12.1-3). A
descendência de Abraão é Jesus Cristo (Gálatas 3.16), que com seu
sangue comprou homens e mulheres de todas as raças, tribos, línguas e
nações, e fez deles um só reino (Apocalipse 5.9,10).
Por isso é que o
apóstolo Paulo diz que “os que são da fé (no Cristo) é que são filhos de
Abrãao” (Gálatas 3.7), pois são estes os que receberam o Espírito
Santo, derramado sobre toda a carne, isto é, sobre todas as famílias da
terra, no dia do Pentecoste (Atos 2.17; Gálatas 3.14).
O Pentecoste é o
oposto de Babel. A obra de Jesus Cristo, descendente de Abraão,
possibilita o derramar do Espírito Santo de Deus sobre todos os povos,
para que a unidade da raça humana seja restaurada e se cumpra o eterno
propósito de Deus: “Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha
muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só
corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois em um só corpo todos nós
fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer
escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único
Espírito” (1 Coríntios 12:12-13). Assim, “todos vocês são filhos de Deus
mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados,
de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre,
homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. E, se vocês são de
Cristo, são descendência de Abraão” (Gálatas 3:26-29).
A conversão a
Cristo, portanto, implica necessariamente a conversão ao próximo, e o
comprometimento com o propósito eterno de Deus de criar para si um povo
que expresse sua imagem e semelhança, isto é, seja uma unidade plural,
que reflete em sua fraternidade universal a comunhão de amor que existe
eternamente nas três pessoas divinas: Deus Pai, Deus Filho e Deus
Espírito. Essa foi a oração de Jesus: “Rogo também por aqueles que
crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai,
como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para
que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste,
para que eles sejam um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim.
Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me
enviaste, e os amaste como igualmente me amaste” (João 17:20-23).
Igreja: ser e pertencer. Cristo sim, Igreja sim. Pois é na comunidade
dos cristãos que o sonho do Cristo se torna visível.
por Ed René Kivitz
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